Sunday, October 01, 2006

Glosa à chegada do Outono

O corpo não espera. Não. Por nós
ou pelo amor. Este pousar de mãos,
tão reticente e que interroga a sós
a tépida secura acetinada,
a que palpita por adivinhada
em solitários movimento vãos;
esse pousar em que não estamos nós,
mas uma sede, uma memória, tudo
o que sabemos de tocar desnudo
o corpo que não espera; este pousar
que não conhece, nada vê, nem nada
ousa temer no seu temor agudo...
Tem tanta pressa o corpo! E já passou,
quando um de nós ou quando o amor chegou.
Jorge de Sena, in 366 Poemas que Falam de Amor

2 comments:

MEHC said...

Muito bonito. E a imagem? Gostava de ver qual escolheria...

lenca said...

Não tinha pensado nisso...
Não sei bem como ilustraria as palavras de Jorge de Sena que por si só são já tão "imagéticas"...