Thursday, August 03, 2006

Leituras IX: Dora Bruder...


Esta imagem é referida no livro pelo autor. Dora com a mãe Cecile e uma vizinha.


...De Patrick Modiani é escrito na primeira pessoa, ou seja, escritor e narrador são apenas um. A história começa quando lê, mais de 40 anos depois de ter sido publicado, um pequeno anúncio no jornal Paris-Soir.

Procura-se uma rapariga. Dora Bruder, 15 anos, 1m55, rosto oval, olhos cinzento-acastanhados, casaco desportivo, camisola em tom bordeaux, saia e chapéu, azul marinhos, sapatos leves castanhos. Endereçar todas a indicações ao Sr. E à Sra. Bruder, Alameda Ornano, nº 41, Paris.
A precisão dos dados, a época em que foi publicado - Inverno de 1941, altura em que, em Paris e em tantas outras cidades Europeias começa a sentir-se a perseguição nazi aos Judeus que agora têm que se recensear e andar nas ruas identificados - levam o autor a fazer uma minuciosa busca por jornais, arquivos, bairros que de alguma forma estejam relacionados com Dora.

Ignorarei para todo o sempre de que modo ela passava os dias, onde se escondia, qual era a sua companhia durante os meses de Inverno aquando da sua primeira fuga e no decurso das pouca semana de primavera em que escapulira de novo. Eis o seu segredo. Um pobre e precioso segredo que os carrascos, os decretos, as autoridades ditas de Ocupação, o depósito de presos, as casernas, os campos, a história, o tempo –tudo o que nos macula e destrói – não puderam roubar-lhe.
O tempo...
É um pequeno livro da colecção Pequenos Prazeres da Editora Asa, um daqueles que comprei a preço azul, ainda lá está a etiqueta, custou-me 1,50€.

3 comments:

Arturo O.Bandini said...

A história parece interessante e o preço foi ótimo.

É impressão minha ou a segunda guerra ainda mexe muito (o que seria compreensível) com o europeu de modo geral?

Um beijo.

lenca said...

Arturo,
Mais do que a 2ª guerra, penso que o que nos toca muito é o nazismo. Acho que, principalmente à minha geração, custa a compreender isso porque já crescemos (achamos nós) numa Europa incapaz disso. Custa a compreender e na verdade penso que a maioria de nós, durante a maior parte do tempo nem se lembra que isso aconteceu. Em Dezembro passado visitei em Amesterdão, a casa da Anne Frank, onde esteve escondida com a família até serem encontrados e enviados para o campo de concentração. É muito pesado. Principalmente porque é incompreensível, pensar nos milhares de pessoas que foram arrastados das suas vidas e tratados como "a eliminar". Gostamos de acreditar que a nossa europa mudou mas a verdade é que ainda há muitos fundamentalistas que acham que são parte de uma raça mais pura e que não entendem que a única coisa que têm a mais que os outros é loucura. Enfim...

Arturo O.Bandini said...

Sim, é muito estranho ver que atualmente ainda tem gente que pensa assim.

Manifestações nazistas em jogos de futebol e outros locais públicos (aqui no Brasil não mas na tv as vezes aparece) sempre espantam e mostram que é um assunto com o qual se deve ter muito cuidado. A última coisa que o mundo precisa é o crescimento dessa ideologia (ou de qualquer outra que seja discriminatória).

Como disse você, enfim...