Tuesday, June 06, 2006

Adolescência?...


É recorrente ouvirmos falar com nostalgia e saudade dos tempos de infância, recordar episódios com piada, brincadeiras inconsequentes, palavras engraçadas. Menos comum é recordarmos a adolescência como se essa fosse uma fase pela qual tivemos que passar à pressa numa tentativa de sobreviver e conseguir ultrapassá-la com o mínimo de mazelas possível.
Lembrei-me disto a propósito de um blog onde fui bater sem bem saber como, de uma adolescente que, em 3 posts descreve, sem saber, a adolescência de forma simples. Sem artifícios. É a adolescência de que nos esquecemos quando passamos a adultos. Ler aqueles 3 pequenos textos fez-me voltar atrás no tempo e recordar de como foi difícil a minha adolescência. Difícil porque tive que fazer tantas escolhas entre tantas possibilidades, escolhas que vieram a fazer de mim a adulta que sou hoje. Algumas dessas escolhas fi-las conscientemente mas, muitas delas, foram acasos, fruto da sorte, fruto da companhia num dado momento. Porque também é uma variável fundamental nesta equação, os bons amigos nem sempre são fáceis de encontrar. Mas não me recordo de ter tomado alguma decisão fruto de um conselho dos pais porque na adolescência nós achamos que sabemos tudo muito melhor do que eles, como se achássemos que eles nasceram assim: adultos. O blog da adolescente, a sentir-se sozinha, desamparada e sem ninguém a quem recorrer, lembrou-me de mim e deixei um comentário a dizer isso mesmo e a tentar transmitir-lhe o que eu achei que eu gostaria de ter ouvido, no lugar dela. Só depois de vê-lo, ali, escrito no ecrã, percebi que não estava a fazer mais do que o que um dia fizeram comigo, percebi que ela quando o lesse ia pensar que uma adulta nunca poderá entendê-la. E fiquei triste por um lado, porque percebi que não havia nada que eu pudesse fazer, que é ela quem tem que escolher o caminho que vai seguir porque na adolescência é assim, não seguimos indicações, trilhamos o rumo. Mas, confesso, fiquei egoistamente satisfeita porque me apercebi que consegui trilhar esse rumo para mim. Não foi nem é o rumo perfeito mas é o meu rumo, maravilhosamente imperfeito.

4 comments:

catarina said...

se pensarmos bem, todos temos ainda um pouco de adolescentes, seria arrogância pensarmos que não, que agora somos pessoas maduras (isto é, cotas)e as nossas decisões e escolhas são mais pensadas, acertadas, os nossos caminhos melhor trilhados... seria bom, mas infelizmente (ou felizmente) não é assim. talvez durante toda a vida vamo-nos construindo a partir dos nossos erros e das nossas escolhas dos momentos. Quanto à tua duvida se a adolescente leva o teu conselho a sério, visto seres "cota", acho que sim, não são assim tão resistentes, têm é de sentir que a escolha final é sempre deles, que são "senhores do próprio destino" e não aceitam "verdades impostas"... assim como nós... (pessoalmente gosto muito de trabalhar com adolescentes, porque têm ainda sentem que tudo é possível...). è verdade, já agora, qual é o blog?

lenca said...

Não ouviste falar nesta actualíssima questão da equiparação dos bloggers a jornalistas?! Tenho direito à protecção das minhas fontes :-)

Quanto ao resto...acho que é mais recorrente falarmos da criança em nós do que da adolescente em nós...a não ser quando reconhecemos a "idade da parva".

Arturo O.Bandini said...

Não sei se a fluidez de seu texto neste post, o rumo que vai trilhando, ou se a proposta do blog - ler devagar - me levaram a divagar sobre minha vida adulta, minha vida adolescente, a passagem que meus filhos terão por ambas.

Coisa que você faz bem, colocar de forma sutil poesia entre os ingredientes.

Além disso fazia tempo que não lia alguém aplicar o verbo fazer dessa forma ("Algumas dessas escolhas fi-las conscientemente"). Um ex-presidente brasileiro, Jânio Quadros, cunhou uma frase famosa por aqui: "fi-lo porque qui-lo".

Você deve sofrer com nosso português de colônia...

Um abraço.

Anonymous said...

Arturo,

Sabe que nao sofro com o vosso portugues. Muito contrario, as vezes dou por mim com vontade de / falar do vosso jeitinho/ tenho muitas vezes vontade de come;ar ou terminar um texto com um /carinhas doidos esses..../


Obrigada pelas palavras sempre simpaticas para os meus textos. Desde que me lembro sempre fui melhor a falar por palavras escritas do que faladas.

Desculpe este texto sem pontua;ao mas estou num computador publico que parece que nao gosta la muito de mim...

Lenca