Friday, June 02, 2006

Associação de defesa do lobo mau!

Ainda no espírito dos lobos e das bruxas (agora vão ter de aturar estes meus pensamentos até eu regressar da Disney), li há tempos numa revista que alguns infantários modernos andavam a retirar ou a "melhorar a imagem" dos lobos maus, madrastas, bruxas e personagens afins, para não traumatizar as criancinhas, dando-lhes a ilusão de um mundo cor-de-rosa, onde não há agressividade, violência, inveja, etc. Talvez o lobo passe a cãozinho e a bruxa arrependa-se das suas maldades e vá fazer trabalho comunitário. E depois? Onde vamos "arrecadar" os sentimentos menos bons? Como vão as criancinhas elaborar a maldade, a agressão, o bom e o mau? Serão sentimentos desconhecidos para elas? Serão vistos como algo que toda a gente sabe que existe, mas não devemos mostrar? Não sentirão elas (e nós) que há coisas tão más em todos nós, mas que o mundo não está preparado para as receber, logo, temos de esconder como se de um segredo se tratasse? Seremos todos "patetas-alegres" a negar o mal e com um sorriso postiço na cara, porque é isso que todos querem ver? Todas as crianças choram ao ver o Bambi... não será isso útil para pensarem sobre a perda, sobre a finitude de todos nós, ou queremos dar-lhes a ilusão omnipotente que vivemos no paraíso, que somos imortais? Talvez chorando pelo Bambi estejam a preparar-se para as perdas reais...
Depois o paradoxo é que temos todos os canais ligados e TV no quarto das criancinhas, com acesso a todos os canais. Todas elas sabem o que é a pedofilia, o terrorismo, o risco de sermos assaltados na rua, violados, etc. (e ainda bem que sabem... mas essa informação, sim, podia ser mais suavizada)... então, no meio disto tudo, porque vamos "amaricar" o lobo mau? Quem vai depois povoar os pesadelos dos nossos filhos? O Bin Laden? o Bibi? Será que quando gostamos da história da branca de neve não é porque um dia percebemos que as mães não são perfeitas e há em todos nós um pouco de "madrasta"? Isso ensina-nos a viver com a ambivalência, com os defeitos e qualidades de cada um. Quando odiamos as manas da cinderela, não estamos a descarregar a rivalidade fraterna? As histórias têm de fabuloso juntarem a fantasia comum aos nossos fantasmas mais escondidos e aí poderem ser pensados e elaborados.
Assim, venho aqui exprimir a minha posição de defensora do lobo mau e vilões afins, porque o mundo sem eles não teria tanta piada e dão uma ajuda enorme a aceitarmos a maldade, a zanga, a inveja, a perda e a tristeza que há em todos nós e no mundo em geral.
E VIVA O LOBO!!
PS - Nãos sei se sabem mas a música do "atirei o pau ao gato" já vai em "atirei o pão ao gato, mas o gato não comeu"... Nunca vos apeteceu atirar um pau a alguém? Enquanto pensarmos no gato, não nos sentimos muito culpados... Daqui a uns temos as criancinham a cantarem que atiraram o pão ao gato e depois inventam uma nova quadra em que atiraram o pau ao pai... ou à professora... além disso, como é feio desperdiçar comida, atirar o pão ao gato também não me parece muito bem, porque há meninos a morrer de fome...

7 comments:

Joana Homem da Costa said...

A mana concorda plenamente com tudo isso! Lixado é nos livrarmos da ideia de principe encantado! Homem perfeito que chega na altura exacta e se te salva de tudo de mal que ha na vida! Porque nunca fizeram histórias com sapos? acho que isso falhou nos contos infantis da disney!

MEHC said...

Minhas filhas têm cada ideia!

catarina said...

Sapos? Temos o principe sapo, ou seja, a esperança para qualquer homem feio e sem graça e o sapo cocas, que acabou com a porca, mostrando que há sempre um chinelo roto para um pé cansado... e isso dos principes é relativos, porque por alguma razão as histórias acabam sempre na altura do casamento... criancinhas: não vale a pena saberem o resto para não desanimarem...

Anonymous said...

Quando li o título pensei que estava em causa um Lobo da Ponta do sol... :)

catarina said...

Boa... não, é um lobo de "verdade"...

Anonymous said...

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Anonymous said...

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