Tuesday, April 04, 2006

Já não se pode com II...

...aquelas pessoas que acham que a culpa é sempre dos outros.

Faz-me lembrar um colega do trabalho que me diz com grande ar de sabedoria adquirida que "na função pública (onde já trabalhou) a questão não é assumir a culpa, é encontrar alguém para cima de quem atirar a culpa". São, invariavelmente, estas as pessoas que frequentam todos os seminários, conferências, encontros, colóquios. Todo e qualquer evento serve para sair duas horitas do trabalho (com sorte o evento termina as 16h45 e não têm que voltar ao trabalho) e acrescentar uma folha ao CV. Mesmo que, sendo juristas tenham assistido a um seminário "Sobre a importância da grainha da uva merlot no ritual de acasalamento dos peixes dourados", o que interessa - dizem com o peito cheio - é que a presença num destes eventos acrescenta um item ao seu (já de si muito interessante) CV. Acrescente-se ainda, a título de curiosidade que, normalmente, estas presenças assíduas, são também grandes apreciadoras dos Coffee Breaks, podendo mesmo, a decisão por parte de a organização de não promover esse convívio, ser factor determinante para a ausência de tão ilustres funcionários públicos.
Normalmente (situação que nem sempre se verifica) estas pessoas reunem ainda a característica de afirmar veemente em inúmeras ocasiões, "Eu posso não saber de muitas coisas mas lá disso(...)", sendo que o lá disso se refere a tudo. E como não poderia deixar de ser, conhecedoras que são de todos os temas mas sempre dizendo modestamente "eu posso não saber de muitas coisas...", não podem nunca ter culpa de nada de mal que acontece na sua repartição/divisão/serviço. "Eu errei", "eu enganei-me" são conjugações de tempos verbais que não fazem parte do vocabulário destas pessoas que também se caracterizam por falarem como quem sussurra quando começam as frases por "não me digas que ainda não ouviste dizer?" ou ainda "eu sei, contaram-me que lhe tinham contado e é como se eu mesmo tivesse visto".
Como diriam aquelas outras pessoas com as quais também já não se pode, "é o país que temos" (normalmente acompanhado por um encolher de ombros e, inconscientemente, por uma completa (essa sim, verdadeira) apatia do país que de facto têm...

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