Leituras II : Aconteceu na Argentina
A propósito do post anterior recordo um livro que li, "Aconteceu na Argentina" de Lawrence Thornton que ganhou em 1987 o Prémio Ernest Hemingway.
Não sei se conhecem a história da chamada Ditadura dos Generais que durante muitos anos fez com que a Argentina vivesse soterrada no terror. O livro mostra-nos, a cada virar de página, não apenas uma descrição desse terror vivido por tantos mas também, e sobretudo, as histórias de esperança, de não desistir que foram sobrevivendo ao passar dos dias, dos meses, dos anos…
É uma luta de sentimentos. Por um lado temos a visão de quem foi sequestrado, levado pelos generais, por outro temos a visão dos que ficam, que ora optam por ir atrás, por protestar (passando muitas vezes a serem eles os sequestrados) e oram optam por se render ao silêncio do sofrimento. Porque não há sofrimento maior do que aquele vivido, sentido em silêncio.
Depois, é ver a sucessão de cenas, quase imagens fotográficas que passam à frente dos nossos olhos, de leitores, graças à capacidade descritiva de Lawrence Thornton. Imagens que às vezes são marcantes, incisivas, como películas antigas que nos levam a ser uma presença oculta, que não se vê mas que se sente, numa qualquer sala de tortura, onde os cabos eléctricos perpetuam choques constantes nos corpos nus daqueles homens, daquelas mulheres.
A Argentina ainda hoje reflecte muito isso, apesar de terem passado tantos anos (a ditaura dos generais na argentina ocorreu durante as décadas de 60/70). Todas as quintas feiras, algumas das "Mães de Maio" vão manifestar-se na praça em frente à Casa Rosada num protesto silencioso pelos filhos, maridos que perderam. Já o faziam durante a Ditadura, empunhando cartazes com os nomes, fotografias dos que tinham perdido mas ainda guradavam esperança de rever. Na maior parte dos casos isso não voltou a acontecer.
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