Leituras IV: O Fio da Navalha
Aproveitei as férias para ler.
Li atentamente, no início mais devagar para conseguir entrar na escrita por vezes densa do autor, e depois com mais avidez, para tentar descobrir rapidamente os segredos que as páginas guardavam, "O Fio da Navalha" de Somerset Maugham. O livro foi um presente e foi um daqueles presentes que, desde logo, desconfiei que vinha com a intenção escondida de um dia ser tema de conversa, de discussão, de dissertação sobre as escolhas de Larry (o personagem central). Foi por isso que li este "O Fio da Navalha" não apenas com aquele prazer desprendido de quem quer perder-se por entre as páginas de um livro mas também com uma atenção redobrada de quem não quer perder um qualqer pormenor.
Pelo que li da sua biografia, este parece ter sido o último romance do autor, publicado em 1944. E de facto, o livro reflecte uma experiência de vida única, inigualável, só se pode escrever assim quando se sabe do que se fala. Porque ali não é só a narrativa, não são só os personagens, não é só a história que tem todos aqueles ingredientes que conseguem resultar na receita infalivel de nos prender da primeira à última página. É, para além disso tudo, uma lição e uma viagem sobre aquilo que todos buscamos: um sentido para a nossa existência, um conhecimento que queremos sentir, aquela certeza que queremos ter de que a nossa vida é plena. E queremos sentir essa certeza no mais profundo, no mais íntimo de nós mesmos, apesar de muitos não admitirmos ou, de muitas vezes procurarmos essa certeza de formas, por caminhos diferentes.
Mas nas páginas do livro seguimos vários personagens sendo que o Larry Darrel é sem dúvida o que mais nos conquista (a crítica escreve mesmo que este foi "O" personagem da vida de somerset maugham) mas a verdade é que Larry dá muitas vezes abertura para que os outros personagens possam brilhar. Quase como se Maugham estivesse a tentar mostrar ao leitor que não existe uma forma perfeita de existir. Porque todos somos bons e maus, por vezes ingénuos, por vezes cruéis mas todos somos humanos e todos temos as nossas razões.
O Larry desiste de tudo o que é material para poder procurar o espiritual. A Isabel não o faz, gosta do conforto e de manipular as situações. O Gray vive para venerar a Isabel e os seus sentimentos são tão simples que quase parecem não existir. Elliot que passa uma vida de aparência e ostentação revela uma bondade profunda. E tantos outros. Em comum têm o facto de não ser perfeitos. E essa foi para mim a lição do livro. Para vocês pode ser outra.
1 comment:
Acabei de ler este livro hoje e vim à procura de opiniões sobre o mesmo.
Tem toda a razão, não há personagens perfeitas neste livro, tal como também não existem na vida real. Não somos pretos ou brancos, mas apenas tons acizentados.
Mas para mim, a personagem de Larry é deliciosa, avesso ao conforto material e indiferente às opiniões contrárias, na sua busca pela felicidade. Tomara que todos tivessemos essa coragem!
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