Matar o tempo...
Hoje, aproveitando o dia de sol, fui almoçar com um amigo a uma esplanada junto ao mar. 13h00 marcámos nós. 13h35 chegou ele.
A pontualidade é de facto uma característica que cada vez se vê menos. Antigamente as pessoas faziam questão na pontualidade hoje gabam-se "de andar sempre a correr e da sua vida não permitir chegar pontualmente a lado nenhum". Nem a propósito nestes 40 minutos de espera (herdei da minha mãe o hábito de gostar de chegar 5 minutos antes da hora marcada, para não ter que fazer os outros esperar...) estive a ler um livro que me foi emprestado. "Resistir" de Ernesto Sabato, é um pequeno livro onde tem 5 cartas deste autor que, do que li, entendi serem dirigidas a qualquer um de nós, a todos nós.
E das muitas reflexões que faz este argentino de mais de 90 anos houve (das que li) várias que me marcaram mas há uma que me marcou em especial por, precisamente eu estar ali, sentada, sozinha, à espera de uma pessoa que tem um ritmo de vida completamente alucinado, para quem tudo é feito a correr. "jantar??impossivel"; "cinema às 19h30 num dia de semana??impossivel"; "copos de fim de tarde??Só se for às 21h"...
"A humanidade carece de tempos de ócio em boa parte porque nos habituámos a medir o tempo de modo utilitário, em termos de produção. Antes os homens trabalhavam a um nível mais humano, frequentemente em ofícios e trabalhos artesanais e enquanto o faziam, conversavam entre eles. Eram mais livres do que o Homem de hoje que é incapaz de resistir à televisão. Podiam descansar à hora da sesta ou a jogar à taba com os amigos. "Venha amigo, vamos jogar um bocado às cartas, só para matar o tempo", coisa tão inconcebível para nós.
A vida dos homens centrava-se em valores espirituais, hoje quase em desuso, como a dignidade, o desinteresse, o estoicismo de ser humano face à adversidade. Estes grandes valores, como a honestidade, a honra, o gosto pelas coisas bem feitas, o respeito pelos outros, não eram nada de excepcional, tinham-nos a maioria das pessoas."
E atenção que não estou a tentar dar lições de moral a ninguém. Eu própria tenho a sensação de que "ando sempre a correr". E, pior, já dei por mim a "fazer tempo" para chegar 15 mnts atrasada a um encontro em que sabia que mais ninguém seria pontual...
2 comments:
:)
Parabéns pelo texto, além de bem escrito explica a rotina em que fomos atirados (ou/e nos atiramos).
Eu tenho sorte, sou professor e tenho horários flexíveis. Mas essa fúria diária faz com que seja quase impossível encontrar com alguns amigos queridos.
É mais fácil ler seus blogs do que encontrá-los para uma cerveja.
Um abraço da terra onde pontualidade é quase lenda (aqui ninguém marca um encontro as quatro da tarde: marca "entre quatro, quatro e meia" e chega as cinco.)
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