Monday, May 29, 2006

Tristeza não tem fim...


Edward Hopper, Summer Evening


...felicidade sim.

Tenho aquele hábito enervante de ficar com uma música na cabeça e depois passar o dia a trautear um ou dois versos,normalmente os únicos que sei de cor - diga-se em abono da verdade. Muitas vezes até invento partes da letra, tentando encontrar palavras que encaixem naqueles espaços de ritmo, mas não é dessa heresia (diriam os músicos) que quero falar aqui.
Esta história de que não há mal que sempre dure nem bem que nunca acabe é um tanto deprimente, não concordam? É que ao fim ao cabo passamos a vida suspensos em espaços temporais criados pela nossa cabeça: em tempos maus, ficamos ansiosos porque todos os dias pensamos "pode ser hoje que muda"; em tempos bons, minamos a nossa felicidade com hipotéticos cenários de finais "não felizes" porque afinal, não há bem que sempre dure.
A música de Vinicius de Moraes que me ficou na cabeça mesmo depois de eu tentar "meter outra no lugar" afecta-me sobretudo hoje que estou num daqueles dias em que esboçar um sorriso é um esforço quase sobrenatural. Deve ser do tempo, este tempo "capacete" está a "implicar comigo", só pode ser isso.
E fiquei a pensar nesta história da felicidade e da tristeza, ambas efémeras. Que bom termos um alento nos tempos maus mas temos que viver a espreitar por cima do ombro nos tempos bons? Não admira que a doença mais actual seja o stress e tudo o que se relaciona. Pois se não conseguimos fechar os dois olhos sem ter medo que alguém nos venha roubar a felicidade. Dormimos sob stress, dormimos um daqueles sonos em que os nossos olhos não param de tremer debaixo das palpebras. Acordamos e vivemos meio a medo, ora porque estamos tristes e temos medo que essa tristeza não acabe, ora porque estamos felizes e sabemos que essa felicidade vai acabar.
"A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar"
Sem o som por trás e sem a voz de Vinicius de Moraes as palavras parecem bem mais duras e já não as conseguimos repetir de ânimo leve. Não é?
A partir de agora vou ter mais cuidado com as musicas que me ficam na cabeça.

2 comments:

Ana Téjo said...

Vovó, por outro lado, dizia: "no final, sempre dá certo. Se ainda não deu, é porque não chegou ao final".
É outra forma de ver a coisa.
Beijo,
JU...

Unknown said...

E o fim nunca chega?
A tristeza corroi, parece estar doendo na alma, uma dor a qual não consigo curar...